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4- Videira e os Ramos: Jo 15,1-17
4- Videira e os Ramos: Jo 15,1-17

As seguintes pessoas, santas e mártires de hoje, ligadas à luta pela terra (Margarida Alves), pela ecologia (entre outros, Chico Mendes), pela liberdade (um exem­plo, Zumbi), deram suas vidas em favor da vida. Foram pessoas que tiveram a cora­gem de denunciar as situações de injustiça, de vio­lência, de pobreza e de miséria nas quais vivem mi­lhares de nossos irmãos e irmãs.

- Na família, na comunidade, no trabalho, na ci­dade, nós conhecemos pessoas que sofrem por causa do serviço da justiça e da solidariedade?

Ainda hoje encontramos pessoas corajosas, que as­sumem com garra a luta por condições dignas de vida. A comunidade de João assume o projeto de Jesus.

Os cristãos puseram a vida acima da Lei. Essa atitu­de mexeu no sistema econômico e religioso dos judeus fariseus, por isso os cristãos foram perseguidos e acaba­ram expulsos da sinagoga, uma organização que garan­tia a vida e a proteção das pessoas que estavam a favor do sistema. Dessa forma, a vida para as pessoas ou gru­pos excluídos da sinagoga tornou-se mais difícil: ficavam sem proteção, sem emprego, sem os serviços religiosos, principalmente sem o lugar para ser enterrado, sem di­reito à participação nas decisões da comunidade e ex­postos à perseguição do império romano. Vamos ler Jo 15,1-17 e procurar perceber qual era a fonte de força (a mística) que sustentava a vida da comu­nidade.

Situando o texto: Os capítulos 13 a 17 do Evangelho de João consti­tuem o chamado Livro da Comunidade. São princípios orientações práticas dirigidas aos discípulos e às discí­pulas para desenvolverem uma vivência comunitária ca­paz de sustentar, animar e ajudar a permanecer fiel nas perseguições.

Como já falamos, neste período, por volta do ano 90 d.C., os cristãos estavam sendo perseguidos pelas autori­dades do judaísmo oficial e pelo império romano (11,53; 12,10). Fora da sinagoga, as condições de vida eram muito difíceis. Por uma questão de sobrevivência, muitos esta­vam abandonando a comunidade cristã.

No Livro da Comunidade (13-17) há uma série de discursos que têm como objetivo ajudar as pessoas a per­manecer fiéis ao projeto da justiça e da solidariedade. Daí a insistência na palavra "permanecer" em Jo 15,1-17 (onze vezes). É a convivência na comunidade que sus­tenta a fidelidade. São as pequenas conquistas que aju­dam as pessoas a não desistir do projeto comunitário.

A comunidade joanina estabelece para si alguns prin­cípios, entre eles destacamos: 

- Deus está presente em cada membro da comuni­dade (14,20.23).

- Consciência da igualdade: é uma comunidade sem hierarquia, tanto na realidade vivida em fa­mília como em grupo. Uma comunidade que busca eliminar as diferenças entre patrão e em­pregado, servo e senhor, em que todos são discí­pulos e discípulas de Jesus, chamados a servir e amar até o fim (13,1.14-15;15,12-13).

- Na comunidade ninguém é excluído, nem mes­mo o inimigo (13,26).

- O amor mútuo é a força que cria e unifica a co­munidade: Como eu vos amei, amai-vos uns aos outros. Nisso conhecerão todos que sais meus dis­cípulos, se tiverdes amor uns pelos outros (13,34­35; 15,12; lJo 4,11).

- A prática do serviço e da solidariedade é conse­qüência natural da vivência do amor (13,14-15; 15,13).

- A nova sociedade exige romper com o sistema injusto e não ter medo da perseguição, tortura, exclusão e morte (15,18-16,4). A ordem é resis­tir!

- A comunidade cristã continua a missão de Jesus (17,18-20).

O que une e dá nova vida à comunidade são as novas relações fundadas no amor e no compromisso. No capí­tulo 15,1-17 o símbolo da videira e os ramos é um exem­plo que nos ajuda a compreender melhor o sentido de per­manecer, de continuar, de resistir e de amar até o fim.

Comentário ao texto: No Antigo Testamento, a vinha era uma imagem muito usada para representar o povo de Israel (Os 10,1; Is 5,1-7; Jr 2,21; Sl 80,9). A imagem da videira e os ramos era uma linguagem do cotidiano, fácil de com­preender, pois o cultivo de uvas na região era muito co­mum nos tempos antigos. Todos conheciam os cuidados que se devia ter com uma vinha.

Uma vinha necessita ser protegida (Pr 24,31), capi­nada (Pr 24,30), irrigada (Is 27,3) e podada (Jo 15,2), cuidados que exigem tempo e dedicação. Dizer que o povo de Israel é a vinha significa a experiência de seramado/a por Deus, de um Deus que oferece carinhos especiais, um Deus que é seu aliado na luta pela vida. Um Deus peregrino como o povo e sempre presente. E a comuni­dade joanina renova essa mesma experiência: ela sente, através de Jesus, Deus como parceiro em suas buscas de melhores condições de vida.

A imagem da videira e os ramos nos ajuda a com­preender a origem e a vivência da comunidade. Numa videira, todos os ramos estão ligados ao tronco. É dele que vem a seiva, a essência que garante a vida. Para que o ramo continue vivo, ele depende do tronco. Cada ramo se desenvolve de maneira diferente, porém todos bebem da mesma fonte. O fruto é o resultado da ligação entre as raízes, o tronco, os ramos e as condições necessárias para que a planta se desenvolva. O que faz circular a vida é a seiva.

No Evangelho de João, ao aplicar essa imagem à comunidade, podemos entender o seguinte: a comuni­dade cristã tem a sua origem em Jesus. É ele que convo­ca a comunidade e lhe dá unidade, e faz desse grupo fi­lhos e filhas de Deus (1,12). O amor é que une as pessoas e também é condição para que Deus faça sua morada na comunidade (1,14; 15,10). O único fruto que se espera dessa comunidade é o amor: "Isto vos mando: amai-vos uns aos outros" (15,17;13,34).

A comunidade se constrói na convivência, que se baseia no amor e se expressa no empenho concreto das pessoas para defender a vida. Esse caminhar não é mui­to fácil, não. Há sofrimentos que podemos comparar com as podas. Porém, elas são necessárias para que se produ­zam mais frutos, e frutos de vida. A vivência dos cris­tãos, do projeto de amar até o fim, entra em confronto com a sociedade injusta; portanto, permanecer implica correr risco de vida!

A nova comunidade tem sua prática baseada na nova justiça e em novas relações: "Eu vos chamo de amigos ... eu vos escolhi" (15,15-16). Numa comunidade de amigos e amigas, todos são iguais, ninguém é estrangeiro ou es­trangeira. O sonho da comunidade joanina era viver e construir uma sociedade baseada no amor, na partilha e na solidariedade.

Nesse projeto, Deus se manifesta como Pai-Mãe, aquele que chama a comunidade à vida. O Deus Filho se manifesta no amor presente e atuante no meio da comu­nidade. E quem sustenta, anima e ajuda na resistência é o Espírito de Deus, que é dinamismo, vida nova, seiva que faz circular a vida.

Aprofundamento: que é a Trindade? Em todo o Evangelho de João é possível perceber uma preocupação concreta com os problemas que a co­munidade está vivendo. A proposta cristã é um projeto voltado para os pobres, doentes, marginalizados e opri­midos. Um projeto cuja essência é o amor vivido de ma­neira plena, no cuidado amoroso de uns para com os outros.

Quem ajuda a comunidade a permanecer firme nes­se novo projeto é o Espírito de Deus, a seiva, aquele que permite a cada membro perceber e intuir as necessida­des concretas da comunidade, de cada pessoa, e entrar na luta pela vida. Uma luta que implica risco de vida. E só aceitamos correr esse risco quando amamos. Portan­to, a comunidade de João procura manter vivo o amor, o único mandamento de Jesus para a comunidade. É no amor que Deus se faz presente: "Se alguém me ama, guar­dará minha palavra e o meu Pai o amará e a ele viremos e nele estabeleceremos morada" (14,23).

Essa experiência é a vivência da Trindade, que só é possível compreender através do amor. Mas o que é viver a Santíssima Trindade? Diante dessa pergunta, uma cri­ança de 9 anos, com os braços abertos, disse: É a gente viver o amor em comunidade, e pronto! Os braços bem abertos complementam as palavras. Na realidade é isso: à medida que abrimos nossa casa e nosso coração para acolher as pessoas é que nos tornamos mais próximos de Deus e vivenciamos a experiência de Deus comunhão: vida, amor e comunidade - Pai, Filho e Espírito Santo.

A comunidade de João também viveu a sua expe­riência da Trindade de maneira muito concreta. Ela apre­endeu que existia uma profunda sintonia entre Jesus e o Pai: Eu estou no Pai e o Pai em mim (14,11); eu e o Pai somos um (10,30). Só conhecemos o Pai através do se­guimento a Jesus (14,6). E a vida de Jesus é doação total de si. Seguir Jesus exige assumir a sua prática: "Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos" (15,13).

Amar até o fim (13,1) era o objetivo da comunidade de João. Assumir esse compromisso tornou-se realidade pela presença do Espírito, aquele que é o doador da vida e que orienta a comunidade em sua prática da justiça (14,26; 16,13). O Espírito é o protetor e defensor, aquele que consola e sustenta na provação (15,26;16,8-10). En­fim, a comunidade viveu a experiência do Espírito como vento que sopra onde quer (3,8), como aquele que prote­ge a comunidade em todas as circunstâncias, como água viva que sempre se renova (7,38), produzindo nova energia, novo vigor, e tornando as pessoas capazes de viver a solidariedade, a partilha e o amor até o fim.

No Evangelho de João, a experiência da Trindade é expressa no novo relacionamento entre as pessoas. Atra­vés do relacionamento com os irmãos e irmãs nos rela­cionamos com Jesus; aproximando-nos de Jesus, nos aproximamos do Pai, que faz surgir em nós uma nova vida: a prática do amor solidário (lJo 4,12.20-21; Mt 25,31-46).

A imagem da videira ajuda-nos a perceber a profun­da unidade que existe na nova comunidade. Ela faz a experiência de Deus que cuida, protege e lhe garante vida nova (10,1-6). Hoje somos chamados e chamadas a refa­zer a nossa experiência da Trindade, a renovar o sentido de viver em comunidade e deixar-nos conduzir pelo amor que possibilita o nosso empenho concreto em favor da vida. No próximo encontro vamos conhecer, mais de per­to, a comunidade de Betânia: Lázaro, Maria e Marta, a comunidade do amor e da vida.