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23 - Apocalipse - B -
23 - Apocalipse - B -

APOCALÍPTICA – EDITORIAL – RIBLA – 1990

 

A Leitura Popular da Bíblia hoje em dia na América Latina está resgatando positivamente a literatura apocalíptica e reinterpretando-a a partir de uma perspectiva histórica e libertadora. A Teologia Apocalíptica é apropriada

 

  • ·        como teologia politica,

 

  • ·        como teologia da esperança,

 

  • ·        como teologia da história.

 

A apocalíptica surge em períodos de perseguição para animar a esperança do povo de Deus; O apocalipse anuncia a juízo de Deus que põe fim a crise que o povo sofre e anuncia a chegada iminente do Reino de Deus na história; O apocalipse descobre a realidade de Deus na história que é a realidade do povo pobre de Deus; o apocalipse é a momento da verdade e da justiça. Nesse sentido a apocalíptica é a esperança dos oprimidos.

 

A apropriação da literatura apocalíptica exige um estudo exegético e um discernimento histórico. Há muita literatura apocalíptica “extra-terrestre”, com uma linguagem e simbologia extravagante e confusa. Mas há também a apocalíptica histórica, cuja mensagem libertadora é possível reconstruir a partir da analise literária, exegética e histórica. Uma primeira lista desta literatura apocalíptica histórica seria a seguinte:

 

Daniel (1-12)

 

Livro dos Sonhos de Enoc (1En 83-90).

 

Apocalipse das Semanas (1En 93,1-10 + 91,11-17)

 

Livro dos Jubileus (esp. 23,16-32)

 

Judite

 

Da literatura de Qumran: Documento de Damasco (CD),

       Regra da Comuniclade (1QS), Rolo dos Hinos (1QH).

 

Testamento de Levi

 

Testamento de Moisés (Assunção de Moisés)

 

Salmos de Salomão

 

Livro 3 dos Oráculos Sibilinos

 

Adições ao livro de Ester

 

2Enoc

 

3Macabeus

 

Sabedoria de Salomão

 

2Baruc (ou Apocalipse Baruc Siríaco)

 

4Esdras

 

Apocalipse de Abraão

 

3Baruc (ou Apocalipse Baruc Grego)

 

Apocalipse de João (canônico do NT)

 

         Já com esta lista termos todo um programa de estudo. Com a edição de Alejandro Diez Macho dos Apócrifos do Antigo Testamento (Madrid, Ediciones Cristiandad, 5 volumes publicados de 1984 em diante), este estudo da literatura apocalíptica de caráter histórico se torna já possível e produtivo. Nesta lista destacamos os livros de Daniel (1-12) e Apocalipse de João, que são os dois apocalipses canônicos mais elaborados e que marcam o horizonte visível da literatura apocalíptica. Esta literatura, por sua vez, é o testemunho visível de muitos e variados movimentos apocalípticos. Estes movimentos e essa literatura, desde Daniel até o Apocalipse, é o contexto histórico, cultural, religioso, teológico e espiritual dentro do qual surgirão o movimento de Jesus e a primeira missão apostólica. Cada dia se descobre mais o pano de fundo apocalíptico de Jesus e de Paulo.

 

A literatura apocalíptica tem, como contexto histórico fundamental, a confrontação Povo de DeusImpério. Não se trata tanto de um confronto político-militar e sim de uma confrontação cultural, ética, espiritual e teológica. O Império idolátrico e assassino se defronta com o Povo de Deus, que procura construir o Reino de Deus aqui na terra. Os que estão com o Império, estão contra o Reino de Deus. Os que estão com o Reino, estão contra o Império. O Reino de Deus, realidade espiritual e teológica, adquire na apocalíptica uma radical densidade histórica e politica. Por isto mesmo a apocalíptica adquire tanta importância hoje em dia na América Latina, especialmente nas Comunidades Eclesiais de Base. Também hoje os cristãos se defrontam com o Império

com sua cultura consumista, individualista e espiritualista; 

 

com sua ética da morte e da mentira;

 

com sua espiritualidade fetichista e idólatra.

 

com sua cultura consumista, individualista e espiritualista; 

 

com sua ética da morte e da mentira;

 

com sua espiritualidade fetichista e idólatra.

 

Contra o Império as Comunidades assumem o projeto do Reino do Deus.

 

A apocalíptica é, sobretudo, uma “reconstrução do céu”. Quando a terra parece destruída e ameaçada de morte, quando as maiorias pobres e oprimidas são cada dia mais excluídas das possibilidades da vida, então se torna imperioso reconstruir na consciência o projeto de Deus, esse mistério de Deus, oculto aos poderosos, mas revelado aos humildes (Mt 11,25-26). A apocalíptica é a conquista da consciência (a reconstrução do céu), para a transformação da terra. Quando a destruição da vida é tão intensa, o povo de Deus necessita de apocalipse, de revelação, para ter claro onde Deus está e onde está o demônio nesta nossa história. A revelação vai contra o ocultamento; o apocalipse é o contrário da ideologia. O que o Império oculta, a apocalíptica revela, mas revela aos pobres, aos oprimidos pelo Império.

 

Outro aspecto da apocalíptica que a torna importante no hoje da América Latina é sua concepção da escatologia. Na apocalíptica de tipo histórico, o escatológico é que põe fim a uma situação de crise e sofrimento do povo. O escatológico não é fundamentalmente o que está no final da história, mas a que na história põe fim a crise que o povo sofre. O juízo de Deus, que destroi os Animais-Impérios e dá todo o poder ao povo dos santos (cf.  Dn 7) é que põe fim à crise. O que vem depois da crise é o Reino de Deus, realidade oposta, dentro da história, ao poder dos Impérios. Nasce assim uma escatologia histórica, que anima a esperança do povo em sua luta contra os impérios e pelo Reino de Deus.

 

Neste número de RIBLA apresentamos 7 artigos que nos introduzem nesta leitura popular e libertadora da literatura apocalíptica.

 

1.   O primeiro artigo, de Severimo Croatto, Apocalíptica e esperança dos oprimidos, tem um caráter introdutório e nos introduz especialmente no contexto sócio-político e cultural do gênero apocalíptico.

 

2.   O segundo artigo, de Pablo Richard, O Povo de Deus contra o Império, é um estudo do contexto literário e histórico de Daniel, capitulo 7. Procura também introduzir, com um exemplo concreto, na literatura apocalíptica com uma chave libertadora.

 

3.   O terceiro artigo, de Néstor Miguez , Para não ficar sem esperança, é um estudo da apocalíptica em Paulo, no caso concreto da Primeira Carta aos Tessalonicenses.

 

4.   O quarto artigo, de Dagoberto Ramírez, Compromisso e perseverança.Estudo sobre Marcos 13, é um estudo exegético e uma tentativa de leitura deste texto apocalíptico a partir da realidade das Igrejas da América Latina.

 

5.   O quinto artigo, de Jorge Pixley, versa sobre as perseguições, estuda o conflito de alguns cristãos com o Império como chave para entender a teologia apocalíptica.

 

6.   O sexto artigo, de Juan Snoek trata do difícil tema da ética apocalíptica. Aborda o tema a partir de Joel, capítulos 1 e 2.

 

7.   Por último, Uriel Molina nos oferece uma reflexão sobre o pequeno apocalipse de Isaias (Is 26,16-19) no contexto atual da Nicarágua.

 

Com todos estes artigos esperarmos ter contribuído para a leitura popular da apocalíptica em perspectiva latino-americana. Como o método tradicional de nossa revista, procuramos combinar a exegese mais rigorosa possível com o espirito e o trabalho de interpretação bíblica das Comunidades Eclesiais de Base. Cremos que nossa revista nasce dessa fecunda convergência entre ciência bíblica e prática profética de nossas comunidades cristãs. Convergência que se faz sobre a base do processo histórico de libertação dos pobres e oprimidos de nosso continente.

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Tradução de Jaime A. Clasen

Pablo Richard Apartado 389, 2070 Sabanilla, San José, Costa Rica