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5.6 - Filho prodigo Lc 15,1-3. 15-32
5.6 - Filho prodigo Lc 15,1-3. 15-32

 

1- Acolhida. Sintam-se todos acolhidos e todas acolhidas neste nosso estudo. Mais uma vez, reunimo-nos para estudar, refletir e rezar a Palavra de Deus. Cada pessoa é uma expressão viva de Sua mensagem para nós. Na aula anterior, meditamos sobre o relato da multiplicação dos pães e peixes, extraindo preciosos ensinamentos e descobertas. Dando continuidade ao nosso estudo, esta semana  aprofundaremos uma das parábolas mais ricas, tanto do ponto de vista literário quanto teológico: a tradicional ‘Parábola do Filho Pródigo’. Essa parábola nos convida a refletir sobre nossa própria jornada espiritual e a maneira como acolhemos os outros com misericórdia e compaixão.

 

2- Oração inicial: "Senhor meu Deus, eu te agradeço pela oportunidade de mergulhar na tua Palavra e aprender mais sobre o teu Filho através do Evangelho de Lucas. Peço que o teu Espírito Santo ilumine a minha mente e o meu coração, abrindo-me para compreender as lições que tens a me ensinar. Ajuda-me a aplicar esses ensinamentos em minha vida diária, crescendo em fé, amor e obediência. Que este tempo de estudo me aproxime ainda mais de Ti e me transforme para a tua glória.  Amém."

 

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3- Motivação da Aula de Hoje: O Evangelho de Lucas contém 29 parábolas, das quais 16 são exclusivas desse evangelho. Uma parábola é uma narrativa curta e simbólica utilizada para transmitir ensinamentos morais, espirituais ou religiosos. No contexto bíblico, Jesus frequentemente usava parábolas para ilustrar verdades sobre o Reino de Deus, tornando conceitos profundos mais acessíveis ao povo. As parábolas geralmente apresentam situações cotidianas, personagens comuns e um desfecho que provoca reflexão. Diferentemente de fábulas, que incluem elementos fantasiosos, as parábolas baseiam-se em experiências realistas e possuem um significado mais profundo.

 

As 29 parábolas registradas no Evangelho de Lucas fazem parte do ensinamento de Jesus aos seus discípulos, especialmente ao longo de sua jornada para Jerusalém (cf. Lc 9,51–19,28). Entre elas, destaca-se o Evangelho de Lucas 15,1-13.11-32, que estudaremos nesta semana e que foi tema do quarto domingo do Tempo da Quaresma, neste Ano C.

 

Essa é a mais célebre das parábolas de Jesus e também uma das mais ricas, tanto do ponto de vista literário quanto teológico. Tradicionalmente conhecida como "Parábola do Filho Pródigo", essa narrativa é considerada a obra-prima de Lucas. O título foi atribuído por São Jerônimo, entre os séculos IV e V, mas, nas últimas décadas, tem sido amplamente questionado.

 

Atualmente, essa designação é vista como limitada, pois não abarca toda a profundidade da parábola, restringindo sua interpretação ao enfoque em apenas um dos personagens. Por isso, muitos estudiosos preferem chamá-la de "Parábola do Pai Misericordioso", destacando a figura central do pai, que acolhe seus filhos com amor e perdão.

 

No entanto, mais do que o título, o essencial é contemplar a parábola em sua totalidade e absorver a riqueza de sua mensagem sobre a misericórdia divina, que transcende qualquer categorização e nos convida a uma profunda reflexão sobre o amor incondicional de Deus.

 

Diante disso, diversas propostas surgiram para renomeá-la de forma mais adequada, como "Parábola do Pai Misericordioso" ou "Parábola do Pai e seus Dois Filhos". No entanto, o essencial não está no título, que jamais será capaz de abranger toda a profundidade dessa parábola. O mais importante é olhar para o texto em sua totalidade e contemplar sua riqueza espiritual e teológica.

 

Como mencionei anteriormente, este evangelho foi proclamado durante o Tempo da Quaresma. Nesse período, à medida que a caminhada quaresmal se intensificava, o chamado à conversão torna-se ainda mais profundo.

 

É fundamental recordar que a primeira e mais essencial necessidade de conversão diz respeito à imagem e à concepção que temos de Deus. A verdadeira conversão, em sua dimensão mais radical, implica uma transformação interior: acolher Deus como Pai misericordioso e amoroso, abandonando a visão de um Deus severo e vingativo, que faz distinção entre as pessoas.!

 

A parábola de hoje busca exatamente essa mudança de percepção. Jesus apresenta uma nova imagem de Deus, bem diferente daquela sustentada por seus adversários—os fariseus e mestres da Lei. A importância desse tema se reflete no fato de que Jesus conta três parábolas consecutivas, conhecidas como "parábolas da misericórdia", ocupando um capítulo inteiro. Isso reforça ainda mais o caráter distintivo do Evangelho de Lucas como o evangelho da misericórdia.

 

Essas parábolas são:

  • A parábola da ovelha perdida e reencontrada (cf. Lc 15,4-7);
  • A parábola da moeda perdida e reencontrada (cf. Lc 15,8-10);
  • A parábola do pai e dos dois filhos (Lc 15,11-32).

O ideal é contemplá-las em conjunto, e a liturgia deste ano nos dará essa oportunidade mais adiante, no vigésimo quarto domingo do Tempo Comum. Contudo, hoje, nossa atenção se volta exclusivamente à terceira parábola, que nos convida a um olhar renovado sobre a misericórdia de Deus.

 

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4- Situando o Texto: O próprio texto estabelece seu contexto na introdução, nos dois primeiros versículos: “Os publicanos e os pecadores aproximavam-se de Jesus para o escutar. Os fariseus, porém, e os mestres da Lei criticavam Jesus: ‘Este homem acolhe os pecadores e faz refeição com eles’” (vv. 1-2).

 

Jesus se encontra diante de dois grupos claramente distintos: de um lado, os publicanos e pecadores, considerados pessoas de má reputação; do outro, os fariseus e mestres da Lei, vistos como fiéis e exemplares. Além da diferença moral, esses grupos assumem atitudes opostas diante de Jesus: enquanto os pecadores se aproximam para escutá-lo, os religiosos o criticam severamente.

 

Os publicanos e pecadores, como representação de todos os marginalizados, sobretudo pela religião, buscavam Jesus porque finalmente encontraram alguém que os acolhia sem discriminação ou preconceito, sem julgamentos ou condenações. Esse comportamento, no entanto, afetava diretamente a reputação de Jesus perante os representantes da religião oficial, os fariseus e mestres da Lei, considerados justos pela rígida observância dos mandamentos. Para eles, duas atitudes de Jesus eram inaceitáveis: acolher pecadores e sentar-se à mesa com eles.

 

Entre essas atitudes, a mais condenável aos olhos dos adversários de Jesus era o ato de fazer refeição com pecadores, algo impensável dentro das normas religiosas judaicas da época. Na mentalidade semita, o ato de comer não se resumia à saciedade, mas simbolizava comunhão e partilha de vida. Aqueles que se sentavam à mesma mesa compartilhavam suas existências, seus valores e sua forma de viver.

 

Além disso, no mundo antigo oriental, as refeições eram servidas em um único prato, colocado no centro da mesa ou passado entre os convivas. Logo, caso houvesse pessoas consideradas impuras, todos os presentes eram vistos como contaminados. Os pecadores, conforme a visão religiosa dominante, se enquadravam nessa categoria.

 

O termo "pecadores" (ἁμαρτωλός – hamartolós, em grego) tem um significado amplo nesse contexto. Ele não apenas designava membros da religião que não observavam os mandamentos com rigor, mas também incluía:

 

  • Pessoas que não pertenciam ao povo de Israel, e por isso estavam fora do judaísmo;
  • Profissões consideradas indecentes, como cobradores de impostos, pastores e prostitutas;
  • Pessoas com doenças ou deficiências, como leprosos, epiléticos e cegos, independentemente de sua origem judaica.

Apesar da rejeição social e religiosa, eram justamente essas pessoas que Jesus mais buscava e com quem mais se relacionava. Por isso, sua postura era vista como herética e abominável por aqueles que defendiam os valores religiosos e morais da época.

 

Dessa forma, identificamos imediatamente os destinatários diretos da parábola: os fariseus e mestres da Lei. Embora fossem considerados justos e exemplares, Jesus os via como os primeiros necessitados de conversão.

 

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5- Leitura do Texto Lc  15, 1-3.11-32Tomamos um primeiro contato com a Palavra de hoje, lendo Lc 15,1-3.11-32, procurando entender o significado das palavras e a mensagem geral do texto. Observe a introdução (Lc 15,1-3) que contextualiza a parábola com a presença de publicanos e pecadores.

 

6- Explicação do Texto: A parábola inicia com um dado que já identifica que o título de “filho pródigo” não é apropriado: “Um homem tinha dois filhos” (v. 11). Na verdade, esse versículo é o verdadeiro título. Com este dado inicial o evangelista já sinaliza que vai apresentar uma relação polêmica, pois, quase sempre, as histórias bíblicas que envolvem dois filhos ou dois irmãos ou irmãs são conflituosas, como por exemplo: Caim e Abel, Isaac e Ismael, Esaú e Jacó, todos no Antigo Testamento, até o episódio de Marta e Maria, no Novo, que também é exclusivo de Lucas (cf. Lc 10,38-42).

 

O grande drama do pai da parábola é ter dois filhos que não se sentem irmãos. Pelas linhas e entrelinhas, a parábola mostra que nenhum dos dois filhos viviam uma relação de amor com o pai, nem entre si. O mais novo, bem mais ousado, toma uma decisão inusitada: “O filho mais novo disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte da herança que me cabe’. E o pai dividiu os bens entre eles” (v. 12). Embora não fosse comum para o mundo judeu, era possível que a herança fosse dividida com o pai ainda em vida. Porém, isso significava o rompimento total das relações: era como se o filho morresse para o pai e vice-versa. Quando um filho pedia a parte da herança estava dizendo, embora com outras palavras, que já considerava seu pai morto. Por isso, era uma prática pouco comum, pois causava muito desconforto na família. De acordo com a lei, ao filho mais novo correspondia somente um terço da herança, enquanto dois terços pertenciam ao primogênito (cf. Dt 21,17).

 

Além de se desligar da família, o filho mais novo rompe também com os laços culturais e religiosos, ao ir para “um lugar distante” (v 13). Logo, aparece o primeiro traço que identifica o pai da parábola com o Deus-Pai de Jesus: a concessão da liberdade aos filhos. O pai poderia opor-se ao filho, impedindo sua partida ou negando-lhe a herança. O filho experimenta a liberdade, mas não mede as consequências de suas escolhas e, com o tempo, sente os efeitos delas (v. 14). A sua degradação chega ao ápice quando ele se torna praticamente escravo de um estrangeiro, submetendo-se a cuidar de porcos (v. 15). Ora, o porco era um animal impuro para os judeus; cuidar desses animais era uma verdadeira humilhação. Passando fome, tem vontade de comer, mas não tem direito sequer à comida dos porcos (v. 16).

 

O reconhecimento da situação de completa penúria e degradação, leva o filho mais novo a uma reflexão seguida de uma decisão: “Então caiu em si e disse: ‘Quantos empregados do meu pai têm pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome. Vou-me embora, vou voltar para meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra Deus e contra ti; Já não mereço ser chamado teu filho. Trata-me como um dos teus empregados’” (vv. 17-19). Aqui, não temos nenhum sinal de conversão, ao contrário do que afirmam as interpretações mais tradicionais. Por isso, é inadequado o uso dessa passagem para fundamentar o sacramento da confissão (reconciliação). As motivações para a reflexão e decisão do rapaz voltar para casa foram meramente materiais: ele não sentiu falta do amor do pai, mas da mesa farta. Por isso, não pensa em reconquistar a dignidade de filho, mas a oportunidade de ser um empregado, pois até aos empregados ele sabe que seu pai trata dignamente. É importante recordar que, mesmo não se tratando de uma conversão propriamente, o filho mais novo reconhece que seu pai é um homem bom, e isso já é um sinal importante, pois nem isso o filho mais velho reconhece.

 

A decisão do retorno do filho, embora não seja ainda uma conversão, como recordamos anteriormente, é um primeiro passo. Certamente, houve conversão, não tenhamos dúvida; mas essa aconteceu devido à acolhida que o pai lhe proporcionou: “Quando ele ainda estava longe, seu pai o avistou e sentiu compaixão. Correu-lhe ao encontro, abraçou-o, e cobriu-o de beijos” (v. 20). A misericórdia e o amor de Deus precedem à conversão. Só se converte verdadeiramente quem se sente abraçado e beijado por um pai assim. Merece atenção a intensidade dos verbos empregados no texto para expressar o comportamento do pai: viu, compadeceu-se, correu ao encontro, abraçou e beijou. Tudo é expressivo na maneira do pai comportar-se com o retorno do filho. Contudo, destacamos apenas duas atitudes: correr ao encontro e beijar. Correr era um gesto considerado humilhante; quem tinha dignidade reconhecida não corria ao encontro de ninguém, pois eram os outros quem deviam correr em sua direção.

 

Neste caso, humanamente falando, quem tinha razão para correr era o filho, ao perceber de longe que o pai estava disposto a acolhê-lo novamente. Mas é o pai quem corre, como demonstração do seu imenso amor. A outra atitude surpreendente do é “cobrir o filho de beijos”. Num mundo patriarcal, esse gesto era impensável para um pai, pois designava uma atitude tipicamente feminina. Era comum o beijo de saudação a uma visita ilustre, o ósculo da paz (cf. Lc 7,45), mas cobrir o outro de beijos era impensável; um pai, segundo os padrões da época, não poderia dar uma demonstração de fraqueza assim, isso só era esperado das mulheres. Tudo isso ajuda a desconstruir a imagem do Deus severo dos fariseus e mestres da Lei. O Deus de Jesus é cheio de amor, não tem outra coisa a oferecer senão amor e compaixão. Por isso, corre ao encontro e cobre de beijos, sobretudo aos filhos mais distantes.

 

Acolhido pelo pai, o filho faz a sua declaração-confissão (v. 21), como tinha ensaiado (v. 18), mas essa já não tem efeito, pois ele foi amado e perdoado antes. O pai não pede garantia de arrependimento nem promessa de bom comportamento daquele momento em diante. Para ele, não importa o que o filho fez, nem o que disse; importa apenas que esteja na sua presença, sentindo seu abraço; importa que tenha vida e dignidade. E por sinal, o pai tem pressa em restituir a dignidade do filho e festejar o seu retorno: “O pai disse a um dos empregados: ‘Trazei depressa a melhor túnica para vestir meu filho. E colocai um anel no seu dedo e sandálias nos pés. Trazei um novilho gordo e matai-o. Vamos fazer um banquete. Porque este meu filho estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi encontrado’. E começaram a festa” (vv. 22-24). Túnica, anel e sandália são sinais de dignidade e representam a condição de filho reconquistada. Quer dizer que o filho não foi tratado como empregado, como esperava, mas como filho intensamente amado. O banquete com o novilho gordo é sinal de grande festa e alegria, indicando a qualidade e a intensidade da acolhida do pai a um filho que se aproxima do seu amor.

 

Se a parábola fosse mesmo do “filho pródigo”, poderia ter sido concluída logo no versículo 24. De fato, esse versículo constitui o ápice do ensinamento: a passagem da morte para a vida e do perdido para o encontrado; essa dinâmica resume a missão e a vida de Jesus. Por isso, termina em banquete. Inclusive, é a festa pelo que fora perdido e reencontrado o que une as três parábolas da sequência (da ovelha perdida, da moeda perdida, do filho perdido), a ponto de serem apresentadas pelo narrador como se fossem apenas uma. Por meio delas, Jesus justificou aos seus interlocutores diretos – fariseus e mestres da lei – o seu comportamento e acolhida para com os pecadores e publicanos, considerados casos perdidos pelos mais devotos judeus. A misericórdia infinita do Pai já foi mostrada até aqui, quer dizer, o que Deus tem a oferecer a seus filhos: amor, alegria, compaixão. Mas Jesus quer ensinar mais; não basta sabermos que Deus é Pai e nos ama; é preciso vivermos como irmãos. Por isso, a segunda parte da parábola visa o restabelecimento da fraternidade, a começar pela denúncia e superação da autossuficiência e do orgulho dos fariseus e mestres da lei, representados na parábola pelo filho mais velho: “O filho mais velho estava no campo. Ao voltar, já perto de casa, ouviu música e barulho de dança” (v. 25). A presença do filho mais velho no campo significa que ele estava cumprindo seus deveres; é a imagem dos fariseus cumprindo minuciosamente as prescrições da Lei; para esses, qualquer comportamento diferente é inaceitável. A Lei, como obrigação, é privada de alegria, por isso, o som da música, sinal de festa, o incomoda.

 

Curioso, mas precavido, o filho mais velho não enfrenta diretamente a situação, talvez com medo de se contaminar, como os fariseus. Pede informações a um dos criados (v. 26), o qual lhe deixa à par da situação: “É teu irmão que voltou. Teu pai matou o novilho gordo, porque o recuperou com saúde” (v. 27). Ao invés de se alegrar com essa notícia, o filho mais velho fica com raiva, o que faz o Pai sair em sua procura (v. 28). É importante como Jesus e o evangelista reforçam os traços do Pai: ele sai em busca de todos, pois a sua casa pertence a todos os seus filhos. Saiu correndo ao encontro do filho menor, e sai também para o filho maior. A queixa do filho mais velho diante do Pai é de quem vivia uma relação retributiva, baseada no mérito: “Eu trabalho para ti há tantos anos, jamais desobedeci a qualquer ordem tua. E tu nunca me deste um cabrito para eu festejar com meus amigos. Quando chegou esse teu filho, que esbanjou teus bens com prostitutas, matas para ele o novilho cevado” (vv. 29-30).

 

Além da presunção em reivindicar seus méritos (trabalhar tanto!), ainda denuncia os erros do outro. Essa é a imagem de quem não se sente filho de Deus, mas servo. Quem não se sente filho, tem dificuldade de reconhecer o outro como irmão, por isso, o filho mais velho chama o mais novo apenas de “esse teu filho”; é a mesma postura dos fariseus e mestres da lei que não se conformam porque Jesus acolhe os pecadores e come com eles (v. 1-2).

 

Assim como Pai deu liberdade para o filho mais novo ir embora, também não obriga o filho mais velho a entrar na festa; apenas deixa claro que suas relações são livres e gratuitas, não considera os méritos, mas apenas a disposição de deixar-se abraçar por ele, mostrando que tudo o que é seu é também de quem se sente ou quer ser filho seu: “Então o pai lhe disse: “Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu” (v. 31). Sempre que alguém decide retornar para sua casa, a recepção será festiva, porque é uma verdadeira ressurreição: “Mas era preciso festejar e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi encontrado” (v. 32).

 

O evangelista deixa a parábola aberta, sem conclusão. Não diz se o filho mais velho entrou na festa, se reconheceu o outro filho como irmão. Na verdade, o autor quis mostrar, partindo do auditório de Jesus e da sua comunidade, que a conversão é uma necessidade constante de cada um e cada uma sendo que, muitas vezes, quem mais necessita é quem se sente mais justo e perfeito. Por isso, a interpretação mais comum atualmente é que nessa parábola o Pai é Deus, indiscutivelmente, Israel (os judeus) é o filho mais velho, o qual tem dificuldade de aceitar os pagãos e pecadores na comunidade, e o filho mais novo é a imagem dos pagãos e pecadores que a comunidade cristã deve acolher sem distinção e sem obrigá-los a observar os preceitos da Torá.

 

Como nenhum dos dois filhos correspondem ou corresponderam ao amor do Pai, o evangelista convida o leitor e a leitora a ser um terceiro filho, capaz de aprender dos erros e acertos dos dois da parábola, sobretudo na concepção da imagem de Deus-Pai: alguém que acolhe a todos, independentemente de onde vem e do que fez. É dessa síntese de pagãos e judeus que Lucas construirá a primeira imagem do cristianismo em sua segunda obra (Atos dos Apóstolos).

 

6- O que a Palavra diz para mim? A parábola do filho pródigo não é a história de um filho perdido, é a história de dois filhos perdidos. Um perdido fora de casa, e o outro perdido, dentro de casa, pelo ciúme. Os dois se afastaram do pai.

 

A volta a volta do filho pródigo expressa em uma obra de arte de Rembrandt, resume a grande luta espiritual e as grandes escolhas que essa luta exige. Ao pintar não somente o filho mais jovem nos braços de seu pai, mas também o filho mais velho que pode aceitar ou não o amor que lhe é oferecido, Rembrandt nos apresenta o "drama interior do ser humano".
Em seu livro sobre a parábola, narrada por Lucas 15, e escrito depois de contemplar a obra de Rembrandt, Henri Nowen se coloca, como o filho pródigo, o mais moço, que esbanjou e perdeu tudo o que tinha, mas que não perdeu a consciência de que ele ainda era filho e tinha um Pai. Depois disso, o autor se coloca na posição do filho mais velho, o que não saiu de casa, nem aceitou o retorno do irmão. Nouwen se coloca também na posição do Pai e afirma que essa é a vocação de todos nós. Vocação a acolher, perdoar e se alegrar pela volta do que se perdera .
Jesus não fala nunca de um Deus indiferente ou distante, esquecido de suas criaturas ou interessado por sua honra, sua glória ou seus direitos.  No centro de sua experiência religiosa não nos encontramos com um Deus “legislador” procurando governar o mundo por meio de leis, nem com um Deus “justiceiro”, irritado ou irado diante dos pecados dos seus filhos e filhas. Para Jesus, Deus é compaixão, e a compaixão é o modo de ser de Deus, sua primeira reação diante de suas criaturas, sua maneira de ver a vida e de olhar às pessoas, o que move e dirige toda sua atuação. Deus sente para com suas criaturas o que uma mãe sente para com o filho que leva em seu ventre. Deus nos carrega em suas entranhas misericordiosas. 
A compreensão da “parábola do amor paterno-materno de Deus” pode ser para nós uma verdadeira iluminação. Ela revela não só o “coração compassivo” de Deus, mas também vemos, refletida nela, de maneira sublime, tudo o que devemos aprender sobre o “falso eu” e o nosso verdadeiro ser. Os três personagens representam diferentes aspectos de nós mesmos. (Comentários do Pe. Adroaldo, sj).

 

7 -  Oração: O que a Palavra , o estudo de hoje te motiva  a dizer a Deus? termine a sua oração ouvindo essa canção. Clique aqui: O viajante

 

8- Vídeo: Para aprofundar a mensagem que Lucas queria transmitir. 

 

 

9 - Partilha: Qual o nosso novo olhar a partir da Palavra? Vamos olhar o mundo, hoje, com o olhar amoroso e misericordioso do Pai, sempre pronto a acolher. E também com a disposição do filho reencontrado. Agora é sua vez de compartilhar com o grupo todas as descobertas que fez ao estudar este texto.

 

10: Benção: Para nos fortificar nesta mudança de vida e assumirmos a defesa da vida, recebamos a bênção.

 
Senhor, nosso Deus, concedei-nos nesta quaresma a graça da conversão e da reconciliação por meio da oração, da penitencia e da caridade. Dai-nos a graça de aprender convosco a  ser livres para amar, acolhendo a vida como dom e compromisso, valorizando e defendendo a vida, especialmente onde ela se encontra mais fragilizada e sofrida. Isto vos pedimos, em nome do Pai, e do Filho e do Espirito Santo. Amém.

 

Fonte consultada:

Pe. Francisco Cornélio F. Rodrigues: Presbítero da diocese de Mossoró-RN. Mestre em Teologia Bíblica (Pontificia Università San Tommaso D’Aquino – Angelicum (Roma)); Licenciado em Filosofia (Instituto Salesiano de Filosofia – Insaf (Recife)) e Bacharel em Teologia (Ateneo Pontificio Regina Apostolorum