1- Introdução: Dia 19 de junho, quinta-feira, celebraremos a solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, que conclui o ciclo das grandes celebrações pós-pascais. Essa festa surgiu na Bélgica, com o objetivo de reafirmar a presença real de Jesus na Eucaristia e promover a devoção ao Santíssimo Sacramento. Foi instituída oficialmente, no século XIII, pelo papa Urbano IV e rapidamente se popularizou em todo o mundo. Por muito tempo, foi celebrada com uma finalidade mais devocional e triunfalista, cujo ápice era a solene procissão. Com a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, foi aprimorada teologicamente. Nesta festa, a Igreja reafirma e proclama solenemente sua fé na Eucaristia como memorial da paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo, como alimento que sustenta e conduz à vida eterna, e como presença permanente do Senhor junto a seu povo. Também recorda o compromisso dos cristãos com as pessoas mais necessitadas, sobretudo as que ainda não têm acesso ao pão de cada dia.
O Evangelho que iremos ouvir em nossas celebrações nesse dia será Lc 9,11-17 o qual traz o relato da multiplicação dos pães e peixes, lido como antecipação do banquete eucarístico e convite ao compromisso de comunhão e solidariedade que a participação nele implica. No nosso estudo iremos nos ocupar dessa narração que aparece 7 vezes nos Evangelho. Em Marcos (6,30-44; 8,1-10), Mateus (14,13-21;15-32-39) e João (6,1-14).
Curiosidade:
O relato da multiplicação dos pães aparece duas vezes nos Evangelhos, em eventos distintos:
Primeira multiplicação: Jesus alimenta cinco mil homens (sem contar mulheres e crianças) com cinco pães e dois peixes. Esse milagre está registrado em Mateus 14,13-21, Marcos 6,30-44, Lucas 9,10-17 e João 6,1-15.
Segunda multiplicação: Jesus alimenta quatro mil homens com sete pães e alguns peixes. Esse evento aparece em Mateus 15,32-39 e Marcos 8,1-10.
Esses milagres demonstram a compaixão de Jesus e sua capacidade de prover para as necessidades do povo. Interessante, não é? 😊
2- Oração: "Senhor meu Deus, eu te agradeço pela oportunidade de mergulhar na tua Palavra e aprender mais sobre o teu Filho através do Evangelho de Lucas. Peço que o teu Espírito Santo ilumine a minha mente e o meu coração, abrindo-me para compreender as lições que tens a me ensinar. Ajuda-me a aplicar esses ensinamentos em minha vida diária, crescendo em fé, amor e obediência. Que este tempo de estudo me aproxime ainda mais de ti e me transforme para a tua glória. Amém."
3- Motivando a aula de hoje: A fome no mundo é um dos desafios mais urgentes da humanidade. Milhões de pessoas enfrentam a escassez de alimentos diariamente, devido a fatores como pobreza, desigualdade, conflitos armados e mudanças climáticas. Regiões vulneráveis, como partes da África e Ásia, são particularmente afetadas. Apesar dos avanços na produção agrícola e no comércio global, a distribuição desigual impede que alimentos cheguem a quem mais precisa. Organizações internacionais, como a ONU e ONGs, trabalham incansavelmente para reduzir a fome por meio de programas de assistência e desenvolvimento sustentável O combate à fome exige esforços conjuntos de governos, empresas e cidadãos. Medidas como o desperdício zero de alimentos, investimentos em agricultura familiar e políticas públicas eficazes podem ajudar a garantir que todos tenham acesso à alimentação digna.
O Evangelho de Lucas foi escrito por volta do final do século I, em um período em que a fome e a desigualdade social eram desafios significativos no Império Romano. A Palestina e outras regiões sob domínio romano enfrentavam dificuldades devido a tributos pesados, concentração de riquezas e crises agrícolas ocasionais.
Hoje, é profundamente revoltante testemunhar crianças e idosos sucumbindo à fome na Palestina, a mesma terra sagrada por onde Jesus caminhou, agora devastada pela guerra. A dor e o sofrimento desses inocentes refletem a tragédia de um conflito que parece não ter fim, deixando marcas profundas na história e na humanidade. Cada vida perdida e cada dia de privação reforçam a urgência de buscar paz, compaixão e justiça para aqueles que mais precisam."
Lucas, que enfatiza a compaixão e o cuidado com os pobres, destaca a fome em diversos momentos de seu evangelho. Um exemplo marcante é o milagre da multiplicação dos pães, onde Jesus alimenta uma multidão, ensinando sobre a partilha e a providência divina. Além disso, Lucas 12, 32-48 menciona a ilusão da riqueza e a necessidade de vigilância, refletindo um contexto em que a fome e a miséria eram realidades para muitos. A fome e a pobreza tiveram um impacto significativo nas mensagens do Evangelho de Lucas, que frequentemente destaca a compaixão e a justiça social. Lucas é o evangelho que mais enfatiza o cuidado com os pobres e marginalizados, reforçando a ideia de que o Reino de Deus pertence aos necessitados.
Algumas formas em que a fome influenciou as mensagens de Lucas incluem:
A valorização da partilha: O milagre da multiplicação dos pães (Lucas 9, 10-17) demonstra que o alimento deve ser compartilhado, reforçando a ideia de solidariedade em tempos de escassez.
O perigo da riqueza: A parábola do rico e Lázaro (Lucas 16, 19-31) mostra um contraste entre um homem que vive em abundância e um mendigo faminto. Aqui, Lucas alerta sobre os perigos da indiferença à fome e à desigualdade.
A importância do sustento diário: O próprio Pai-Nosso, segundo Lucas (Lucas 11, 3), enfatiza o pedido por "nosso pão de cada dia", mostrando a preocupação com o sustento básico.
Jesus como fonte de alimento espiritual: Além da fome física, Lucas também destaca Jesus como aquele que sacia a fome espiritual da humanidade, oferecendo esperança e salvação.
Lucas escrevia para uma comunidade que, provavelmente, enfrentava desafios econômicos e sociais. Por isso, suas mensagens refletem um forte apelo à justiça, à generosidade e ao cuidado com os necessitados. Ele apresenta Jesus como o Messias que veio não só para salvar, mas também para transformar a realidade dos mais pobres.
4- Agora, leia pausadamente o texto de Lucas 9,11-17, observando atentamente cada detalhe e refletindo sobre como ele se relaciona com o que foi discutido anteriormente. Perceba as nuances da narrativa, a atitude de Jesus diante da multidão e a mensagem de partilha e providência que o episódio transmite.
5- Agora vamos nos aprofundar no estudo do texto de Lucas 9,11-17, analisando seus detalhes e compreendendo sua mensagem em um contexto mais amplo.
A “multiplicação dos pães” parece ter sido o milagre de Jesus mais apreciado pelas primeiras comunidades cristãs. Atesta isso o fato de ser o único milagre relatado pelos quatro Evangelhos, com seis relatos no total, uma vez que, em Mateus e em Marcos, é contado duas vezes (Mt 14,13-21; 15,29-39; Mc 6,35-44; 8,1-9; Lc 9,11-17; Jo 6,5-13).
Apesar de tratar-se do mesmo acontecimento, cada evangelista narra-o à sua própria maneira, introduzindo elementos próprios, de acordo com suas intenções teológicas. Nesta liturgia, lemos a versão de Lucas, que está inserida na fase conclusiva da missão de Jesus na Galileia, já muito próximo de iniciar seu longo caminho para Jerusalém (9,51). A cena está localizada precisamente entre a missão dos doze (9,1-6) e a confissão de Pedro (9,18-27), um dado que atesta sua importância.
Os apóstolos voltaram entusiasmados da missão e logo contaram a Jesus tudo o que tinham feito. Diante disso, Jesus tomou-os consigo, retirando-se um pouco para um lugar deserto, provavelmente para proporcionar-lhes um tempo de descanso e ouvir suas impressões com maior atenção (v. 10). As multidões, porém, descobriram o plano e foram ao encontro deles (v. 11a). O trecho selecionado pela liturgia começa exatamente afirmando que Jesus acolheu as multidões (11b), um detalhe exclusivo do relato de Lucas. Essa acolhida ressalta a misericórdia de Jesus, um dos temas mais relevantes de toda a obra lucana, evidenciando o cuidado de Deus por todas as pessoas, especialmente pelas mais necessitadas, o que é confirmado pela seqüência do versículo: “falava-lhes sobre o Reino de Deus e curava todos os que precisavam”. As atitudes de acolher, anunciar o Reino e curar constituem verdadeira síntese da vida e missão de Jesus. Tudo isso é demonstração de um amor completo, que cuida e humaniza.
Com o final do dia se aproximando, os discípulos demonstram preocupação com a situação e dão uma sugestão bastante razoável para as circunstâncias: mandar as multidões embora (v. 12). Contudo, Jesus não aceita tal sugestão e os envolve no compromisso de dar de comer, de serem eles mesmos agentes de partilha (v. 13a), apesar de terem tão pouco: apenas cinco pães e dois peixes (v. 13b). De fato, o que tinham era quase nada para uma multidão de aproximadamente cinco mil pessoas. Jesus, porém, sempre acredita na força dos pequenos e na abundância do que parece pouco. Por isso, dá mais um passo, ordenando que os discípulos mandem o povo se sentar, organizados em pequenos grupos (v. 14).
Depois que tudo estava organizado, Jesus cumpriu uma série de gestos com os cinco pães e os dois peixes: tomou-os, quer dizer, recebeu-os; olhou para o céu, certamente em ação de graças ao Pai pelos dons; partiu-os e os deu aos discípulos, para distribuí-los à multidão (v. 16). Tais gestos antecipam o que foi feito também na última ceia, embora compartilhada apenas com os discípulos. É importante notar que, apesar de indiferentes no início, os discípulos participaram de todos os momentos do agir de Jesus até aqui. Isso revela quanto Jesus quis envolvê-los, o que indica o comprometimento dos seus seguidores, em todos os tempos, com suas causas, como o combate à fome, por exemplo. De fato, o resultado do conjunto de atitudes de Jesus e seus discípulos foi exatamente a superação da fome: “Todos comeram e ficaram satisfeitos” (17a). E houve mais: “ainda foram recolhidos doze cestos, que sobraram” (17b), tamanha a abundância do conjunto de atitudes de Jesus, suficientes para matar a fome de Israel e do mundo.
Como se vê, mais do que um milagre, o relato da multiplicação dos pães é verdadeiro ensinamento de Jesus. É lição para os cristãos de todos os tempos. Ele nutriu materialmente a multidão faminta, que antes tinha sido alimentada pelo pão da Palavra, pois o início do texto diz que lhes foi anunciado o Reino de Deus. Isso quer dizer que as duas fomes – de Palavra e de pão – devem ser recordadas e saciadas sempre, sobretudo nas comunidades que celebram a Eucaristia, para que não apenas repitam gestos e ritos, mas realmente façam comunhão com ele.
6- Feito todo esse processo, é hora de refletirmos profundamente: O que Deus quer nos dizer através desta passagem? O que esse trecho do Evangelho nos ensina?
7- Diante da reflexão sobre o texto que estudamos e da dura realidade em que tantos enfrentam a fome, nossa oração a Deus Pai pode ser um clamor sincero e cheio de fé:
Senhor Deus, Pai de misericórdia, olhamos para o mundo ao nosso redor e vemos tantos irmãos e irmãs que sofrem com a falta do pão. Como Jesus nos ensinou, sabemos que não apenas de alimento material vive o homem, mas também da Tua palavra e do amor que nos une como filhos e filhas. Pedimos que toques nossos corações e nos ensines a partilhar, a cuidar uns dos outros e a sermos instrumentos da Tua providência. Que nunca nos falte o pão da esperança, da solidariedade e da justiça, e que possamos agir com generosidade diante da necessidade do próximo. Assim como no milagre da multiplicação, Senhor, transforma o pouco que temos em abundância para aqueles que precisam. Desperta em nós o desejo sincero de aliviar a dor dos que sofrem e dá-nos força para lutar contra a indiferença. Confiamos em Ti e Te pedimos que nos guies pelo caminho do amor e do serviço. Amém.
8 - E para concluir, como podemos viver essa mensagem no dia a dia? A passagem que estudamos nos convida a refletir sobre nossa atitude diante da necessidade do próximo e sobre nossa confiança na providência divina. Ser solidário não exige grandes gestos; muitas vezes, um pequeno ato de generosidade pode transformar a vida de alguém.
Pense: há alguém ao seu redor que precisa de ajuda hoje? Pode ser alguém que enfrenta dificuldades materiais, que precisa de um gesto de carinho, ou até mesmo de uma palavra de esperança. Seja uma presença ativa na vida dos que precisam, pois Deus multiplica o amor e a compaixão que compartilhamos. Além disso, confie que Deus sempre provê, ainda que, em alguns momentos, a vida pareça incerta. O milagre da multiplicação nos ensina que, quando colocamos o pouco que temos nas mãos de Deus, Ele transforma em abundância.
9- Conclusão: Que essa reflexão nos motive a viver com mais fé, generosidade e disposição para servir. Que possamos ser verdadeiros instrumentos da graça divina, levando esperança e amor aos que mais necessitam.
Que Deus os abençoe e os acompanhe sempre! Até o nosso próximo estudo.
9,18-24.