Curso Bíblico Interativo via WhatsApp: Entendendo a Carta aos Romanos
1º Encontro: Introdução à Carta aos Romanos
Oração Inicial: Sejam bem-vindos! Neste encontro, daremos início à nossa jornada pela Carta aos Romanos — um dos textos mais profundos e impactantes do Novo Testamento. Vamos juntos mergulhar nessa carta que nos chama a viver segundo a lei do Espírito da vida e o Evangelho de Cristo: um Evangelho de amor, justiça e fraternidade. Iniciemos nossa jornada com o coração aberto, reconhecendo a presença viva da Santíssima Trindade entre nós. Que sua luz nos ilumine e sua graça nos fortaleça enquanto mergulhamos neste estudo da Carta aos Romanos.
Senhor Deus Todo-Poderoso, agradecemos por este momento de aprendizado e reflexão em Tua Palavra. Que o Espírito Santo nos conduza, iluminando nosso entendimento para que possamos absorver as verdades contidas nesta Carta sagrada. Que cada versículo nos revele mais sobre Tua graça, Tua justiça e Teu amor incondicional. Abre nossos corações e mentes, Senhor, para que possamos viver esses ensinamentos em nosso cotidiano, crescendo na fé e no conhecimento de Cristo. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.
1-Introdução: Neste ano, seguindo a orientação da CNBB, somos convidados a mergulhar na riqueza espiritual da Carta aos Romanos — um verdadeiro alicerce da fé cristã. O ano que vem será o livro de Daniel e em 2027, será a vez da 2ª Carta aos Coríntios.
A escolha da Carta aos Romanos e do lema “A esperança não decepciona” visa aprofundar a espiritualidade do Ano Santo da Encarnação de Jesus Cristo (2025), cujo tema é “Peregrinos da esperança”. A palavra "esperança" aparece 13 vezes ao longo da Carta aos Romanos — e não se trata de uma esperança qualquer. É uma esperança enraizada no amor de Deus, derramado em nossos corações pelo Espírito Santo. Trata-se de uma esperança firme, capaz de sustentar-nos mesmo nos momentos mais difíceis. É no capítulo 5, versículo 5, que encontramos o lema do Mês Bíblico deste ano: “A esperança não decepciona”, pois o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito que nos foi concedido.
2- O que é Jubileu? Historicamente, o Jubileu é um evento celebrado a cada cinquenta anos, conforme estabelecido em diversas tradições religiosas — entre elas, o Judaísmo, que se inspira no ano jubilar descrito em Levítico 25. Esse tempo sagrado é marcado por um chamado à renovação interior, ao repouso da terra, à devolução das propriedades e à libertação dos escravizados.
A expressão “ano da graça do Senhor”, presente em Isaías 61 e retomada por Jesus em Lucas 4, torna-se o eixo central de sua missão. Na tradição católica, os jubileus tiveram início com o Papa Bonifácio VIII, em 1300, passando a ser celebrados regularmente a cada 25 anos, com algumas edições extraordinárias — como o Ano da Misericórdia, em 2015.
Mais do que um evento de caráter social ou econômico, o Jubileu simboliza um tempo de restauração e reconciliação, promovendo a justiça social, a igualdade e a renovação espiritual. É uma ocasião propícia para intensificar a oração, buscar o perdão, realizar peregrinações e reafirmar o compromisso com a fé. Nesse espírito, o Jubileu da Esperança se apresenta como um marco espiritual, que nos convida a encarar feridas individuais e coletivas, reconhecer injustiças e abrir o coração ao diálogo e à construção de caminhos de cura e paz.
Dessa forma, o Jubileu da Esperança de 2025 e a Carta de Paulo aos Romanos estão profundamente alinhados no tema central da esperança cristã. Paulo afirma que a esperança não decepciona (Rm 5,5), pois nasce do amor de Deus derramado pelo Espírito Santo. Romanos apresenta a justificação pela fé como caminho para a paz e a glória, e o Jubileu convida a redescobrir essa graça, vivendo como peregrinos reconciliados. Assim como o Evangelho é para todos, o Jubileu tem caráter universal, chamando à fraternidade e à justiça. Por fim, ambos inspiram conversão e renovação interior, para uma vida transformada pela esperança que vem de Deus.
3- Motivando o encontro de hoje: Na missão de anunciar o Evangelho às nações, Paulo seguia uma estratégia bem definida, composta por três etapas. Primeiro, fundava comunidades, reunindo grupos de cristãos dispostos a crescer na fé e a viver os ensinamentos de Cristo. Em seguida, realizava visitas pastorais, fortalecendo os discípulos, aprofundando seus ensinamentos e enfrentando os desafios que surgiam com o tempo. Por fim, escrevia cartas às comunidades com o objetivo de orientá-las diante de dificuldades, conflitos e dúvidas que emergiam após sua partida, assegurando que a mensagem de Cristo permanecesse viva e clara.
Entretanto, a relação de Paulo com a comunidade cristã de Roma não seguia o mesmo padrão observado em outras cidades. Ao contrário de lugares onde fundara igrejas e acompanhara de perto o crescimento das comunidades, Paulo não foi o responsável pela fundação da igreja romana. Essa já existia, desde o ano 40 d.C, fruto da ação de judeus romanos que estiveram presentes no dia de Pentecostes (At 2,5-11), e que, convertidos, levaram a fé cristã de volta à capital do império. Ainda assim, Paulo alimentava um profundo desejo de conhecê-la pessoalmente.
3.1- Uma Igreja que Paulo não fundou: Enquanto residia em Corinto, cidade grega marcada por seus dois portos, Paulo dedicava tempo à contemplação dos dez anos de missão que havia vivido. Os navios que partiam do porto oriental o faziam lembrar de Jerusalém, destino final das doações que as comunidades cristãs haviam reunido ao longo dos meses para socorrer os irmãos que enfrentavam a pobreza.
Já seu olhar voltado ao porto ocidental despertava novos horizontes. Paulo sonhava com terras ainda não alcançadas pela Boa Nova de Jesus — como a Espanha, onde o Evangelho poderia ressoar com vigor renovado. Entre Corinto e a Espanha estava Roma, o coração do Império. Se conseguisse chegar até lá, Paulo poderia estreitar os laços com aquela jovem igreja e ajudá-la a tornar-se uma ponte viva entre o cristianismo oriental e ocidental.
Embora não tenha sido responsável pela fundação da igreja em Roma, Paulo nutria profundo interesse por ela. Surgida por volta do ano 40 d.C., essa comunidade nasceu da fé de judeus romanos que estiveram em Jerusalém no dia de Pentecostes (cf. At 2,5-11) e, convertidos, levaram consigo a mensagem de Jesus à Roma o coração do Império. No entanto, a questão sobre a identidade de Jesus como o Messias provocou divisões profundas entre os fiéis da cidade.
A tensão entre judeus e gentios em Roma atingiu seu ápice no ano 49 d.C., quando o imperador Cláudio ordenou a expulsão de todos os judeus da cidade, sem distinção de crença. Com isso, restaram apenas os cristãos gentios, que, aos poucos, deixaram de observar práticas judaicas como a circuncisão, as leis alimentares, o sábado e as festas religiosas. Sem essas tradições, a comunidade cresceu significativamente entre os não judeus.
Cinco anos depois, com a morte de Cláudio, muitos judeus retornaram a Roma. Ao reingressarem na comunidade cristã, encontraram uma igreja profundamente transformada. O contraste era inevitável: os judeus cristãos não reconheciam mais a igreja que haviam deixado; os gentios não viam sentido em reabilitar costumes que julgavam superados.
O orgulho étnico se instaurou. Judeus cristãos viam os gentios como irreverentes e impuros, acusando-os de negligenciar a Lei de Moisés. Por sua vez, os cristãos gentios zombavam dos judeus, acusando-os de sufocar o Evangelho com excessos legalistas.
Essa polarização começou a desfigurar a comunhão e a fragmentar a igreja de Roma. Paulo, sensível à relevância pastoral daquela comunidade, compreendia que ela precisava ser sinal visível do amor e da unidade que somente Cristo pode oferecer.
Sem ter estado em Roma, Paulo escreve uma carta profunda e cuidadosamente estruturada. Apresenta-se como apóstolo legítimo e oferece um remédio espiritual ao tribalismo que ameaçava a fraternidade. Em sua mensagem, deixa claro: a salvação não depende de obras ou de herança religiosa, mas da graça de Deus, acolhida pela fé em Jesus. Judeus e gentios são igualmente necessitados — e igualmente amados.
Viver o Ano Jubilar e o Efeito Romanos é escolher o caminho da reconciliação: superar divisões, derrubar muros, acolher as diferenças e deixar que a graça de Cristo resplandeça por meio da unidade. É essa força transformadora que veremos refletida no vídeo a seguir — uma mensagem que nos convida a renovar o coração e abraçar a comunhão que nasce do Evangelho.
Convite à reflexão: Agora é hora do texte, de assimilar o que vimos e ouvimos até agora. Pegue seu caderno, sua caneta — e também seu coração aberto — e responda às questões a seguir com atenção e sinceridade. Deixe que a mensagem ressoe dentro de você, iluminando sua fé, despertando consciência e fortalecendo o chamado à comunhão.
01- O que Paulo contemplava enquanto estava em Corinto? Os últimos dez anos de sua missão e os portos da cidade? A construção de uma nova igreja em Roma? A expansão do Império Romano pelo Mediterrâneo? A chegada de navios vindos da Espanha?
02- Por que Paulo desejava ir a Roma? Para fundar uma nova comunidade cristã? Para fortalecer os laços com a jovem igreja e torná-la uma ponte entre Oriente e Ocidente? Para arrecadar doações para os irmãos em Jerusalém? Para confrontar os líderes judeus sobre a identidade de Jesus.
03- Como surgiu a comunidade cristã em Roma? Foi fundada por Paulo durante suas viagens missionárias? Nasceu nos primeiros dias do Movimento de Jesus e se espalhou entre os judeus de Roma? Foi estabelecida por gentios convertidos após o Pentecostes? Foi criada por ordem do imperador Cláudio?
04- O que aconteceu com os judeus em Roma no ano 49 d.C.? Foram expulsos da cidade pelo imperador Cláudio? Assumiram o controle da igreja cristã? Fundaram novas comunidades cristãs em outras regiões? Foram perseguidos pelos gentios cristãos?
05- Qual foi o impacto da expulsão dos judeus na igreja cristã em Roma? A igreja foi dissolvida e deixou de existir? A igreja cresceu rapidamente entre os gentios, abandonando práticas judaicas? Os gentios cristãos adotaram as tradições judaicas? A igreja foi transferida para Jerusalém?
06- O que aconteceu quando os judeus retornaram a Roma após a morte de Cláudio? A igreja se unificou rapidamente? Os judeus cristãos e os gentios se dividiram devido ao choque cultural e religioso? Os judeus cristãos assumiram o controle da igreja? A igreja foi destruída por conflitos internos?
07- Qual foi o principal conflito entre judeus cristãos e gentios em Roma? Disputas sobre a liderança da igreja? Diferenças sobre práticas religiosas e orgulho étnico? Conflitos sobre a expansão da igreja para outras regiões? Debates sobre a construção de novos templos?
08- Qual foi a mensagem central de Paulo na carta aos Romanos? A salvação depende das obras e da observância da Lei de Moisés? A salvação é acessível pela graça de Deus, por meio da fé em Jesus? Os gentios devem adotar as tradições judaicas para serem salvos? A igreja de Roma deve se separar em comunidades distintas para evitar conflitos?
09- O que significa viver o 'Efeito Romanos', segundo o texto? Seguir estritamente as tradições judaicas e gentílicas? Superar divisões, acolher diferenças e refletir a unidade em Cristo? Expandir a igreja cristã exclusivamente entre os gentios? Promover o tribalismo e fortalecer as identidades étnicas na igreja?
10- Por que Paulo considerava a igreja de Roma estrategicamente importante? Porque ela era a maior comunidade cristã do Império? Porque ela poderia ser uma ponte entre o Oriente e o Ocidente cristão? Porque ela tinha acesso direto ao imperador? Porque ela era composta exclusivamente por judeus cristãos?
4- Conhecendo a cidade e a comunidade cristã de Roma: No século I, estima-se que a população de Roma atingia cerca de um milhão de habitantes, sendo a maioria composta por escravos que viviam sob forte subjugação e exploração pelo poder do Império. A vida deles normalmente era muito breve, com grande incidencia de suicidio, e a expectativa de vida não ia além de mais de 20 anos.
A sociedade romana era profundamente escravagista, marcada pelo espírito de helenização — ou seja, pela influência da cultura grega — e essa realidade era frequentemente justificada pelo culto ao Imperador, que funcionava como uma religião oficial. A carta aos Romanos menciona a presença de diversas pessoas de origem não-livre, incluindo escravos e libertos, nas várias comunidades cristãs que se encontravam na periferia da capital (Romanos 16,1-16).
A Carta foi ditada por Paulo e escrita por Tércio (16,22), um escrivão por volta do ano 57/58 d.C., durante sua estadia em Corinto, na Grécia. Febe diaconisa da comunidade cristã de Cencreia, um porto próximo a Corinto, na Grécia foi a portadora da carta. Ela foi uma figura notável da igreja primitiva, mulher influente que usava sua posição para servir à comunidade cristã, mencionada por Paulo na carta 16,1-2, o que mostra a confiança e o respeito que ele, Paulo tinha por ela. Ela é lembrada até hoje como um exemplo de liderança feminina, hospitalidade e serviço cristão. Em algumas tradições cristãs, como a Igreja Católica e Ortodoxa, Febe é venerada como santa, com datas litúrgicas dedicadas a ela.
5- As circunstâncias que motivaram Paulo a escrever aos Romanos (Rm 1,1-15). No século I, Roma abrigava comunidades judaicas bem estabelecidas, compostas por cidadãos profundamente enraizados na tradição religiosa de Israel. Estima-se que havia cerca de 20 mil judeus na cidade, distribuídos entre diversas sinagogas. Por volta do ano 49 d.C., alguns judeus romanos que estiveram em Jerusalém durante a festa de Pentecostes (Atos 2,10) converteram-se à fé cristã por meio da pregação de Pedro. Ao retornarem à capital do Império, trouxeram consigo a primeira semente do cristianismo, ainda fortemente ligada às práticas e à espiritualidade judaicas. Para eles, a fé em Jesus não representava uma ruptura com a tradição, mas sim o cumprimento das promessas feitas ao povo de Israel.
Essa perspectiva, no entanto, gerou tensões dentro das sinagogas. A proclamação de Jesus como o Messias prometido provocou intensos debates e divisões entre judeus tradicionais e judeus cristãos. Diante desses conflitos, o imperador Cláudio decretou a expulsão dos judeus de Roma — uma medida que atingiu também os judeus cristãos, como o casal Priscila e Áquila, que mais tarde se tornaram colaboradores de Paulo em Corinto (At 18,1–4) de onde ele escreveu a carta.
Após a revogação do édito, durante o governo de Nero, judeus e judeus cristãos retornaram gradualmente à cidade. Ao reencontrarem as comunidades cristãs, perceberam que estas haviam se transformado: agora predominavam os cristãos gentios, que não seguiam as práticas judaicas como as leis de pureza ou observância das festas religiosas. Essa nova configuração gerou conflitos internos, especialmente entre dois grupos: os “fracos”, judeus cristãos simpatizantes da tradição judaica, e os “fortes”, cristãos não judeus, que se consideravam livres da antiga Lei. Essa tensão é abordada por Paulo em Romanos 14,1–15,13, onde ele exorta à unidade e à aceitação mútua.
Além dos desafios internos, a comunidade cristã enfrentava os efeitos devastadores de uma sociedade marcada pela injustiça, perversidade e idolatria, como descrito por Paulo em Romanos 1,24–32. Essa realidade provocava sofrimento, destruição da vida humana e da própria criação — obra gloriosa de Deus — conforme refletido em Romanos 8,18.
Diante dessa conjuntura complexa — marcada por conflitos doutrinários e pressões externas — Paulo escreve a Epístola aos Romanos com o objetivo de orientar e fortalecer a fé da comunidade. Sua mensagem apresenta o caminho do justo, segundo o evangelho de Jesus Cristo, como resposta redentora para os desafios do tempo (Rm 1,17). Ele apresenta três preocupações principais em sua mensagem. Essas preocupações estruturam grande parte do conteúdo da epístola, tornando-a uma das mais teológicas e profundas das cartas paulinas.
a) Estabelecer laços com a comunidade cristã de Roma. Paulo conhecia diversas pessoas da cidade (cf. Rm 16,1-16) e sabia dos problemas existentes. Em Roma havia uma disputa entre Judeus convertidos, que ainda seguiam a Leis de Moisés, e gentios, que nunca ouviram falar de Moisés mas seguiam Jesus e se consideravam livres da observância de práticas tradicionais, como guardar o sábado, seguir as leis alimentares kosher ou serem circuncidados.
Kosher significa "adequado" ou "próprio", e se refere a um conjunto de leis alimentares do judaísmo (Lv 11). Essas regras determinam quais alimentos podem ser consumidos e como devem ser preparados para estarem em conformidade com a tradição judaica. Isso causou tensões sobre costumes, liderança e interpretação da fé. Diante disso, Paulo escreveu a carta com objetivos claros: promover a unidade entre ambos os grupos a conviverem no amor de Jesus Cristo, acolhendo suas diferenças e, unidos, edificando o Reino de Deus.
Essa divisão mostrava a disputa entre cristãos que seguiam tradições judaicas (judaizantes) e aqueles que apenas seguiam os ensinamentos de Jesus Cristo. Em sua carta Paulo busca resolver esses conflitos e ´promover uma fé centrada no evangelho de Jesus Cristo, crucificado pelo Império e ressuscitado em oposição ao poder imperial, contrastando com a boa nova do imperador romano, que legitimava a concentração de poder e riquezas.
b) Reforçar que a salvação vem pela fé em Jesus Cristo, manifestada na vida nova e na prática do amor ao próximo. Entretanto, dentro da comunidade cristã de Roma, há um grupo judaizante e conservador (vimos esse grupo no vídeo sobre Gálatas) que ainda defende a necessidade das obras da Lei, incluindo práticas como a circuncisão, as normas de pureza e impureza e os sacrifícios no templo e a observância das 613 Leis ou mandamentos. Esse grupo segue um judaísmo legalista, que prega a salvação pela estrita observância da Lei.
c) Orientar a vida cotidiana da comunidade, que vive sob o domínio romano, marcado pela busca desenfreada por bens, poder, prazer e honra. Esse contexto gera conflitos internos, levando à exclusão social, sofrimento de muitos e destruição da natureza, causados pelas guerras e pelo avanço da civilização romana.
Naquele tempo, as posições doutrinárias de Paulo expressas na Carta aos Gálatas já eram conhecidas pelas demais comunidades, pois havia intenso diálogo entre as igrejas, e as notícias se espalhavam rapidamente (cf. At 21,21; Rm 15,31). Além disso, circulavam diversos rumores sobre sua atuação e sua postura contrária aos costumes judaicos. De fato, Paulo se opunha firmemente à observância da Lei de Moisés (cf. Gl 2,4). A reação dos cristãos judaizantes foi intensa, e muitos o retratavam como um renegado do judaísmo e das "tradições dos antigos", afirmando que ele pregava o abandono dos ensinamentos da Lei de Deus.
Diante dessas graves acusações, é provável que Paulo tenha desejado registrar por escrito seu pensamento teológico sobre a ação gratuita de Deus e a observância da Lei como caminho para a salvação, deixando clara a posição cristã. Ele buscava libertar as pessoas de superstições e medos, permitindo-lhes compreender verdadeiramente o evangelho de Jesus. Para Paulo, era essencial eliminar a crença de que a não observância de certos rituais resultaria em castigo divino. Além disso, ele defendia que todos os povos pertenciam ao povo de Deus, não apenas os judeus. Ao planejar sua passagem por Roma, é possível que tenha reunido diversos escritos em uma única carta, enviada às comunidades romanas por meio de Febe, diaconisa da Igreja de Cencreia (Rm 16,1).
A igreja romana era mais antiga e provavelmente surgiu no seio da ampla comunidade judaica da cidade. Por volta do ano 49, o imperador Cláudio decretou a expulsão dos judeus de Roma, forçando Priscila e Áquila, um casal judeu-cristão, a buscar refúgio em Corinto (cf. At 18,2-3). Como resultado, a comunidade cristã romana era majoritariamente formada por judeus-cristãos, com poucos convertidos oriundos do paganismo, tornando o ambiente pouco receptivo a Paulo.
Talvez, devido aos conflitos gerados pelos ensinamentos da Carta aos Gálatas, especialmente entre cristãos de origem judaica, Paulo tenha revisado suas ideias, explicando-as com mais profundidade e de maneira sistemática. Em alguns trechos, ele suaviza a linguagem incisiva utilizada em Gálatas, reformulando-a de forma mais moderada na Carta aos Romanos. Assim, o núcleo doutrinário de Romanos (Rm 1,16–8,39) corresponde ao mesmo conteúdo de Gálatas, porém revisado, expandido e refinado. A comparação entre Gl 3,19-22 e Rm 3,20; 7,7-13, ou entre Gl 5,12-21 e Rm 8,5-13, revela essa diferença: o pensamento permanece o mesmo, mas a exposição em Romanos é mais clara e equilibrada, sem repetir as expressões duras de Gálatas (cf. Gl 5,12).
No entanto, a Carta aos Romanos vai além de uma simples reinterpretação de Gálatas. Paulo acrescenta uma profunda reflexão sobre o destino dos judeus diante do mistério de Cristo (Rm 9–11) e apresenta uma série de exortações pastorais aos membros da igreja romana, demonstrando seu conhecimento sobre as dificuldades enfrentadas por aquelas comunidades (Rm 12–16).
06- Conhecendo as mensagens teológico-pastorais da carta: A Carta aos Romanos é composta por 16 capítulos, tornando-se a mais longa entre todas as epístolas paulinas, mas neste estudo, iremos concentrar nossa análise em cinco capítulos específicos, escolhidos por sua relevância teológica e pelo impacto que exercem na compreensão da mensagem central da carta.
Ao aprofundarmos nesses trechos, poderemos examinar como Paulo constrói sua argumentação, fundamentando sua visão sobre a justificação pela fé, a graça divina e a relação entre judeus e gentios no plano da salvação. Além disso, exploraremos o papel do Espírito Santo na vida dos fiéis e as implicações da fé cristã para o cotidiano dos seguidores de Cristo. Nosso objetivo é oferecer uma visão estruturada e aprofundada desses cinco capítulos, permitindo uma compreensão mais rica da teologia paulina e de sua aplicação na vida cristã.
A Carta aos Romanos é uma das obras mais profundas de Paulo, abordando temas centrais da fé cristã. Suas mensagens teológico-pastorais incluem:
a) Justificação pela fé – Paulo ensina que a salvação não vem pelas obras da Lei, mas pela fé em Jesus Cristo, destacando que todos pecaram e carecem da graça de Deus. A expressão justificação pela fé pode parecer complexa para aqueles que não estão familiarizados com a linguagem paulina. No entanto, a justificação refere-se ao ato de tornar-se justo, salvo e em harmonia com Deus, vivendo uma nova vida no Espírito de Jesus. Assim, a salvação, entendida como a construção do Reino de Deus, é realizada por meio de uma fé viva e ativa, enraizada no amor revelado na vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo — a mais grandiosa manifestação do amor e da graça divina.
b) Vida no Espírito – A carta ressalta a importância de viver segundo o Espírito Santo, deixando para trás a escravidão do pecado e abraçando uma nova vida em Cristo. A orientação de Paulo é clara: a comunidade cristã deve permanecer no Espírito de Cristo, aquele que lutou pela vida, entregou-se em amor ao próximo e ressuscitou para a plenitude da vida. Por isso, agora não há mais condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus, pois a lei do Espírito da vida em Cristo nos libertou da escravidão do pecado e da morte.
Na prática, justificação pela fé em Cristo significa viver segundo a lei do Espírito da vida — ou seja, o caminho do amor e da transformação. Essa vida nova nos convida a superar nossos instintos egoístas e a assumir, com compromisso, o amor ao próximo, colaborando na construção do Reino da Vida, segundo o Evangelho de Jesus Cristo.
07 - Para aprofundar o assunto estudado nessa primeira aula: A primeira parte do vídeo que será exibido contribuirá para aprofundarmos nosso aprendizado nesta introdução à Carta aos Romanos. Serão abordadas a realidade interna e externa das comunidades cristãs da época, o contexto histórico — quando, onde e por que Paulo escreveu a carta —, além de suas principais mensagens teológicas e pastorais. Assista ao vídeo quantas vezes forem necessárias para assimilar bem a mensagem que o apóstolo desejava transmitir às comunidades de Roma — uma mensagem que continua viva e relevante para nós ainda hoje.
Clique aqui e assista: Carta aos Romanos - 1ª Parte
08- Partilha no grupo: Agora é a sua vez! Compartilhe com o grupo suas descobertas, reflexões e dúvidas e expectativas, enriquecendo o diálogo e fortalecendo nossa caminhada juntos.